O Ensino. Recomeços
Retratos de uma sociedade à beira de um ataque de nervos
Com as férias a acabar, chega a altura dos habituais (re)encontros de amigos e familiares e, inevitavelmente, a conversa recai sobre o início do ano letivo, sobretudo se existem filhos em idade escolar ou profissionais do ensino. O stress de todos é evidente.
Perguntamo-nos, caro leitor, porquê?
Da conversa, percebemos o porquê de uma sociedade à beira de um ataque de nervos. Se não vejamos.
Os filhos mais velhos estão deprimidos, perante a expetativa de não conseguirem entrar no curso superior que querem, ou, pior ainda, de terem de fazer melhorias de notas. Os pais, silenciosamente, pedem a todos os anjinhos que os miúdos vão trabalhar, pois não sabem onde vão arranjar dinheiro para pagar o quarto, mais caro do que o empréstimo da sua habitação, que pagam mensalmente, sem contar com propinas, viagens, livros e alimentação.
Os pais dos alunos que estão no ensino obrigatório percebem que a alegria que sentiram, ao saberem que teriam manuais gratuitos, se pode transformar num pesadelo e desesperam com plataformas que não entendem e com serviços administrativos que não têm respostas para lhes dar.
Os professores, que foram chamados durante o mês de agosto à Escola - ainda há quem lhes inveje as férias? -, estão, esses sim, verdadeiramente à beira de um ataque de nervos... sem o ano ter ainda começado.
Para além de uma agenda repleta de conferências, seminários, formações, workshops (que segundo nos confidenciaram são obrigatórios), conselhos pedagógicos e de turma, reuniões de departamento e de grupos disciplinares, sem esquecer as reuniões de projetos - da saúde, da cidadania, das artes, da robótica, do desporto escolar, da rádio, da televisão, do cinema, do património, da biblioteca escolar, da saúde, da inclusão - o mais importante, que é planificar o trabalho de sala de aula, terá de ficar para ser feito pela noite dentro, ou durante o fim de semana. Contudo, como também nos disseram e toda a gente sabe, esta é a razão de ser da escola e é sempre relegada para segundo plano.
Parece-lhe normal, amigo leitor?
O que nos leva a refletir sobre o estado a que chegou a educação, que parece ter perdido o seu foco.
Que repercussões poderão advir para a sociedade, quando o professor passa a maior parte do seu tempo em reuniões ou tarefas que pouco têm a ver com o ensino e a aprendizagem?
Caro leitor, será que ninguém pensa nisto? Não estaremos a descaracterizar a Escola?
PS. Foi preciso rir, de uma situação que se repete ano após ano, para que os nossos amigos acalmassem e gozassem, com alguma serenidade, os últimos dias de férias. E não demos hipótese a um dos nossos amigos, diretor de agrupamento, de falar da falta de funcionários, de alunos, de professores, de horas e do adiamento das obras... Ficará para uma próxima crónica.
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